quinta-feira, 20 de junho de 2013

O Viajante Desconhecido

Era uma vez um homem. Alguém que havia cansado da maçante rotina a qual foi designado. Largou tudo de mão e foi-se. Simples assim. Com um meio de transporte peculiar, foi em busca de explorações, aventuras e tantas outras peripécias que existisse. Com sua adorável neta, a primeira companhia que escolheu, esse viajante começou uma jornada infindável pelas estrelas.

Em meio a tantos lugares, visitaram um planetinha azul e por ele a singela criança que acompanhava o viajante nutriu um afeto. Ela adorava os seres que ali viviam. Tão perseverantes, fortes, inteligentes, astuciosos! Tanto que ficou feliz com a companhia de alguns em suas aleatórias viagens com seu avô. E era apenas o início...

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Então aqueles que acompanhavam o viajante começaram a se distanciar dele e viverem suas próprias vidas. Ora por genuína vontade, ora por infelizes casualidades. A princípio ele ficou um pouco abalado, pois percebeu a importância daqueles seres outrora julgados como inferiores. Havia grande potencial neles, eram valorosos, dignos de companhia! E cada vez mais sentimentos recíprocos de admiração, confiança e surpresa, inclusive, perpassavam entre os passageiros daquele peculiar veículo.

Mas ele acabou se acostumando com a ida de seus companheiros de viagem. Companheiros esses que, por vezes, tornavam-se grandes amigos daquele homem. Este, que ao passar das aventuras, e por causa de certas complicações, precisava mudar. E, tal qual uma fênix, ele mudava, com o vigor renovado e novos jeitos de se portar, e se importar. Quase como se fosse outra pessoa.

Uma metamorfose ambulante, seria uma boa definição para esse viajante. Alguém sempre seguindo em frente, tentando esquecer o passado não muito agradável que possuía. O que interessava era continuar explorando, ajudando os outros e se divertindo. E mesmo com um relacionamento conturbado com os seus semelhantes, ele também os ajudava, mesmo que não quisesse no momento.

E assim ia viajando pelas estrelas...

Até que uma tragédia ocorreu. Uma terrível guerra entre seu povo e horrendos seres alienígenas foi travada! No fronte, ele lutou para defender os seus e os outros, inocentes, ignorantes quanto a Grande Guerra, mas potencialmente prejudicáveis por ela.

Mas não houve alternativas, seu povo e seu lar estavam perdidos. Arrasado, foi se reconfortar naquele querido planetinha azul, o qual já era de seu grande apreço, principalmente pelos seres que ali viviam. Ainda triste encontrou novos amigos, e reviu antigos, que ajudaram a superar as amargas perdas. Amigos que nutriam o recíproco apreço de outrora. No entanto, talvez por causa da guerra, ele passara a prestigiar e valorizar ainda mais seus companheiros, amigos, fortalecendo um vínculo duradouro com aquela praticamente inofensiva e aparentemente indefesa parte do universo.

O último que restara, sobrevivente da Grande Guerra, por vezes pensava ter sido o vitorioso, glorioso vencedor. Uma vitória inabalável. Felizmente as atitudes que se seguiam por sua parte sempre trouxeram a certeza de que aquela não era a verdade, apenas uma ilusão de um solitário e saudoso viajante.

E mesmo com o acirrado vínculo, todo o prestígio que possuía, seus amigos também o deixavam, pelas mesmas circunstâncias de outrora... E ele continuava a mudar, tentando ser mais brincalhão, mais ingênuo, para superar a amargura que o envelhecia. O que nem sempre funcionava. Parecia ser tão jovem, mas seu passado o condenava, trazendo à tona indesejáveis sentimentos.

Hoje ele ainda viaja. Mesmo com todas as perdas que poucos acreditariam e tristezas que não muitos entenderiam, ele ainda continua, ainda segue em frente. Segue em frente para prosseguir em novas aventuras, em adquirir novos conhecimentos. Segue em frente porque sabe que pode continuar a ajudar os outros, e a deixar os outros lhe ajudarem. Ele segue em frente porque sabe que sempre poderá contar com seus amigos, principalmente com os novos, e tem fé que possa rever os antigos.

Ele segue em frente porque não pode parar.

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"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.” - Clarice Lispector

"Você é aquilo que ninguém vê. Uma coleção de histórias, estórias, memórias, dores, delícias, pecados, bondades, tragédias, sucessos, sentimentos e pensamentos. [...]
Você é um eterno parênteses em aberto, enquanto sua eternidade durar." - Machado de Assis