terça-feira, 28 de outubro de 2025

90 Anos do Maior Quadrinista Brasileiro

Ontem, Maurício de Sousa completou 90 anos de idade, poucos dias após sua cinebiografia ter estreado nos cinemas, então aproveito o ensejo para também comentar sobre outras de suas obras que eu vi na telona. Já publiquei no Aniliquajo simples comentários sobre os quadrinhos baseados em suas criações, mas ainda não tinha escrito nada muito extenso sobre o audiovisual, não que eu vá me prolongar neste texto, mas será consideravelmente maior que minhas curtas aprovações em redes sociais.

A primeira vez que fui prestigiar meu quadrinista favorito no cinema foi em 2004, ainda criança, foi uma experiência inesquecível em que, mesmo ao sair da sessão, ainda se podia ver os créditos na entrada das salas. No mesmo ano, também pude conferir Shrek 2 e Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, vale destacar, duas sequências espetaculares, mas também o terrível Homem-Aranha 2 que dispensa comentários, pois já o fiz em O Melhor Homem-Aranha. Contundo, voltando ao cerne deste texto, pude ver em casa longas-metragens mais antigos do Maurício através de fitas VHS que eu alugava em locadoras, como As Aventuras da Turma da Mônica e A Princesa e o Robô (confira vídeos sobre eles no YouTube), e eram animações tão, senão mais, divertidas que a que vi no cinema. Só não lembro se foi antes ou depois do Cinegibi.

Em 2007, voltei a apreciar uma nova obra da Turma da Mônica no cinema; desta vez, escrita pelo Emerson Abreu, roteirista cujas HQs memoráveis e marcantes sempre será alvo de minha afeição. Todavia, só anos depois é que eu descobriria que ele era o mesmo autor tanto do maravilhoso Uma Aventura no Tempo como das histórias dos gibis que eu tanto amava. Depois disso, até 2019, ficamos órfãos das criações do Maurício no cinema. Uma pena, já que eu sempre considerei a Maurício de Sousa Produções (empresa que, recentemente, foi renomeada para MSP Estúdios) a Disney brasileira, para o bem e para o mal.

Depois de um considerável hiato, em 2019, foi lançado Laços, o primeiro filme não animado da Turminha. Adorei, tenho até hoje o DVD, mas não senti vontade de publicar nada aqui, embora tenha um roteiro melhor escrito que a Novela Gráfica na qual foi baseada, assim como foi com Lições, o primeiro filme a lançar no cinema e não ter mídia física oficial, um fato triste para os colecionadores e amantes desses itens como eu. Lições foi bem divertido, entretanto, mais esquecível que seus antecessores, ou talvez seja porque eu só o vi uma vez que não lembro muito bem de sua narrativa. Seguidamente, foram lançadas séries sofríveis como A Série (nem o título salva-se) e Astronauta. Origens não opino, pois ainda não vi. Então chegamos a 2025, ano em que não foi lançada apenas uma, mas duas películas da MSP. A primeira, Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa, foi ótima, com atores carismáticos e história adequada à Turminha Caipira. Isaac, ator que interpretou o Chico, não me convenceu muito de que ele era o personagem, mas a atuação foi boa. Apesar das qualidades excepcionais, a cena da Taís Araújo interpretando a Goiabeira foi o fundo do poço, não só pela animação 3D duvidosa, mas também pela falta de carisma da atriz que me convenceu menos ainda de ser uma personagem da Turminha do Interior. O cume do longa foi entregue pelo Zé Lelé e seus pais, sem dúvidas, os melhores personagens do filme. Enfim, foi mais uma obra de elevado atributo cinematográfico que os apreciadores do Maurício merecem. Mas nada comparado com o que viria em outubro.

Mauricio de Sousa: O Filme (tiraram o acento agudo no primeiro “i” ou sempre foi assim?) estreou no mesmo mês em que publico este texto no Aniliquajo e eu pude conferi-lo no cinema em seu primeiro fim de semana. Se eu já não fui claro o suficiente até agora, não me apetece exprimir algo negativo sobre ele ou suas criações, embora eu não os considere perfeitos e concorde que há margem para reclamações, porém, não é o que farei sobre este filme, pois a experiência que tive vendo-o foi digna de uma obra-prima, gostei mais até do que Mussum! Por isso resolvi dedicar um espaço neste meu cantinho virtual só para lembrar do passado deste grande empresário (mesmo que ele prefira ser conhecido como desenhista). Eu quase cheguei a chorar em algumas cenas de tão emocionante que o roteiro e as atuações foram bem trabalhadas, o que é raro de acontecer. Saí da sessão maravilhado, ainda processando o que tinha acabado de ver, e olha que fiquei até depois dos créditos finais para ver a cena extra, que, ao meu ver, não vale a pena esperar, visto que é apenas e tão somente o próprio Maurício dizendo algo como "Não desista dos seus sonhos, pois eles não desistirão de você." Fora isso, considero um dos melhores filmes de 2025.

É perfeito? Neca de pitibiriba. Mas cumpre perfeitamente o que se propõe. A exibição já começa com um dos itens que cresci lendo nos gibis e não apareceu em A Goiabeira Maraviosa: o trabuco do Nhô Lau, mesmo que de relance. E de relance é o que mais tem no filme, mas também, avançaram-se 35 anos em menos de duas horas. O que não é desculpa para alterar alguns acontecimentos, como o fato de o empresário sair do jornal Folha em 1964, e não em 1961, como é dado a entender, por ser considerado “comunista”. O ator que interpreta Moacir Correa o chama de “subversivo”. Não foi algo que me incomodou, mas vale a pena destacar, assim como a cena em que Maurício diz a Marilene para avisar a família que vão se casar, pois, na realidade, ele só comunicou o ocorrido à sua família após se casar, segundo o perfil Tudo sobre a Turma da Mônica.

Outra conduta que quero salientar é a atuação de Mauro Sousa (filho do Maurício) e Thati Lopes, tendo em conta que não foram ruins, o que me causou surpresa, já que o trailer tinha me dado uma má impressão. Mesmo que competentes, ainda foram os atores menos convincentes, que menos se destacaram e que entregaram performances que não alcançaram o mesmo nível de intensidade do restante do elenco, o que diz muito da alta qualidade dos demais. Oberdan Júnior é um deles, dublador famoso pela voz brasileira do Tintim, mas principalmente Diego Laumar, uma das crianças mais cativantes e encantadoras que já estrelou um filme. É chocante o quanto Diego oferece de atuação, mas parte dos elogios também se deve ao diretor e roteirista Pedro Vasconcelos que foi o ideal para o projeto! Igualmente elogio a trilha sonora extraordinariamente bem inserida, um dos aspectos superiores ao filme do Mussum.

Até momentos que eu estava em dúvida se encontraria nesta obra, houve, como a indagação do amigo do Maurício sobre ele ser misógino por ter meramente personagens masculinos em seus quadrinhos. Este é unicamente um dos diversos fragmentos que dá espaço para a fita ser para a família sem ser "infantiloide". Último elemento que aspiro registrar aqui é a fidelidade dos gibis da época de infância do Maurício, inclusive O Gibi original que deu nomes a todas as revistinhas, e de suas próprias publicações posteriormente. Evidente que houve um ou outro equívoco, como a cor azul do Bidu, que não teve o erro de coloração tal como foi apresentada no filme, mas é tolerável.

Concluindo, este não é um filme para quem gosta de elencar os defeitos alheios, pois o roteiro não os revela, não que isso seja um ponto negativo. Obviamente incomodará os mais fervorosos conhecedores da trajetória do Maurício, pelo que escrevi logo acima, mas espero que agrade ao público em geral, à vista de a MSP lucrar formidavelmente e possa dar continuidade ao projeto, pois só foi mostrado a carreira do Maurício até 1970, portanto, anseio por um segundo filme. Se eu pudesse, era este filme que eu indicaria ao Oscar, ainda que exista premiações melhores, esta é a estrangeira mais popular, e Maurício de Sousa merece ser reconhecido internacionalmente assim como Walt Disney é.