sábado, 6 de janeiro de 2024

Comentários Sobre os Especiais de 2023 de Dr. Who

Depois de mais de um ano, Dr. Who ganhou novos episódios: três especiais em comemoração ao sexagenário e um especial de Natal, todos escritos por Russel T. Davies. Como eu escrevi em Agradeço por Tudo, Steven Moffat, dá para ter alguma emoção com os roteiros do RTD, nem que seja negativa, que foi o caso do primeiro especial, A Fera Estelar, em novembro de 2023. Admito, porém, que a culpa não foi toda do roteirista, já que Pat Mills e Dave Gibbons contribuíram na criação da história. Os demais especiais, escritos exclusivamente pelo RTD e lançados em dezembro de 2023, foram muito bons.

Aviso: este texto contém revelações sobre o enredo.

O especial A Fera Estelar foi um lixo, praticamente tudo foi péssimo: a história, os personagens, os diálogos, os atores e até a dublagem brasileira! A direção e a trilha sonora foram as únicas partes boas. O resto foi um horror, uma galhofa do pior tipo com clichês como o bicho fofo que vira um monstro maligno e cenas ridículas, como uma cadeirante que dispara mísseis de sua cadeira. Foi um dos piores episódios de Dr. Who que eu já vi, nem gosto de lembrar. O toque final com chave de chorume foi o identitarismo da Donna e sua filha e a utilização do pronome do cogumelo mágico por parte do Doutor. Não recomendo este para ninguém.

O segundo especial, A Imensidão Azul, foi bem melhor: um bom suspense espacial que acaba gerando uma reflexão sobre outras formas de vida e o que elas poderiam aprender com a humanidade. Os personagens, que foram só dois praticamente o episódio inteiro, são ruins, mas, pelo menos, as atuações são um pouco melhores. A história é intrigante e lembra o episódio Meia-noite da temporada de 2008, com monstros que se disfarçam de humanos e tentam roubar seus lugares. Eu só não gostei da dublagem, que tem erros de tradução, além de insistir no pronome espúrio.

Certo, tudo bem agora, mas ainda não chegamos a ter um especial que fizesse jus ao sexagenário. Bem, até estrear Risadinha, o episódio que traz de volta o Artesão Celestial, aqui chamado apenas de “Toymaker”. Sim, nem traduziram seu título na versão oficial. Mas o que importa é que o personagem continuou sendo maravilhoso, mesmo nas mãos do RTD que gosta de descaracterizar os personagens clássicos da série. Para não dizer que gostei de tudo, senti falta de uma explicação sobre a mudança de aparência da entidade. Fora isso, ele aprontou o diabo com o Doutor, brincou com tudo e ainda fez críticas sociais acertadas. Sem falar nas marionetes das companheiras do Steven Moffat que morreram todas e o Artesão soube explorar muito bem, mesmo com o Doutor retrucando. Outra grata surpresa foi a volta da Melanie Bush, que não aparecia na franquia desde 1987; amei vê-la contando sobre a morte de Sabalom Glitz e trabalhando na UNIT. Também foi bom o Artesão mencionar que transformou o Mestre num dente de ouro, o qual foi pego por uma mão misteriosa no final, o que deixa a entender que ele voltará. Até a cadeirante que foi ridícula no A Fera Estelar, aqui foi perfeitamente adequada ao contexto da trama; ela até levantou da cadeira, pensei que não podia, mas fui informado de que a personagem sofre de má formação na coluna que a deixa com uma paralisia parcial. Entretanto, como nada é perfeito – principalmente vindo do RTD -, o final foi um desastre com o novo conceito de “bi regeneração” em que o Décimo Quarto Doutor não morreu, ele coexiste com o Décimo Quinto. Isso foi de doer. Por que o RTD gosta tanto de duplicar o David Tennant? E ainda ficou com a família esquisita da ruiva irritante. Sobre o Décimo Quinto Doutor, ainda não tenho opinião formada, mas foi insensato dar-lhe a marreta do Chapolim Colorado para duplicar a TARDIS. Já não bastava dois Doutores coexistindo ao mesmo tempo, na mesma linha temporal? Risível.

Por último, comento sobre o especial de Natal A Igreja da Rua Ruby: a estrela é o Décimo Quinto Doutor e sua nova companheira, a Ruby. Ela tem um sobrenome que em português significa Domingo, que é engraçado porque a história ocorre num Domingo. Bem que podiam ter traduzido para Domingues, seria uma ótima sacada. Esta história não é nada comparada aos especiais de Natal de Steven Moffat, mas, ainda assim, é muito melhor que os primeiros especiais do RTD. É uma trama menos caprichada que Imensidão Azul e Risadinha, mas diverte. Só não gostei de o Décimo Quinto trocar de roupa tantas vezes, e não ter uma vestimenta fixa como os Doutores anteriores. Sua personalidade também me incomodou; aliás, a falta dela, não vi nada marcante até agora nesse Doutor, espero que melhore nos próximos episódios. Apesar disso, adorei a premissa de gobelins (ou duendes) que sequestram bebês para comê-los; embora eu considere que o enredo poderia ser mais caprichado, achei muito simples. A forma como o Doutor conhece a Ruby quando bebê me lembrou de Amy Pond, embora a história de Amy com o Doutor tenha sido mais emocionante. Em A Igreja da Rua Ruby há mais comédia que drama, apesar de haver um pouco deste, mas nada muito substancial. Algo que eu não me lembro de ter visto antes – ou melhor, ouvido –, foi o Doutor cantar. E ele cantou com a Ruby; para melhorar, a música teve sua versão PT-BR na dublagem. Também gostei de ver o Doutor com um saiote escocês, lembrou-me de Jamie, o companheiro do Segundo Doutor, um personagem maravilhoso.

Por enquanto é só, não sei se escreverei sobre os episódios vindouros da série, até porque talvez eu nem os veja. Já faz anos que não me empolgo mais com a franquia e a volta do RTD me desmotivou ainda mais. Como escrevi, gostei de alguns desses especiais, foram melhores que os episódios do Chris Chibnall, mas não foram tão empolgantes como os do Moffat, nem tão bem escritos. O cinquentenário de Dr. Who foi bem melhor que o sexagenário, disso não há dúvidas. Por último, recomendo ouvir o áudio drama A Luz no Fim com os Doutores clássicos.