quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Agradeço por Tudo, Steven Moffat

Eu comecei a assistir Dr. Who pela temporada de 2005, a que voltou do hiato de 16 anos, depois que a série foi cancelada em 1989. Se desconsiderar o filme para a TV de 1996. E eu adorei o Doutor, assim como as histórias divertidas e inteligentes. Principalmente a dos episódios A Criança Vazia e O Doutor Dança. Infelizmente, a temporada acabou e o Doutor se regenerou. Eu fiquei muito surpreso, pois nunca tinha visto nada parecido antes! E também fiquei muito decepcionado, pois aquele Doutor que eu adorei virou outra pessoa, uma pessoa desagradável. Demorou quatro episódios até que eu me acostumasse com esse novo Doutor. Mas os outros personagens continuaram o mesmo. Embora eu tenha adorado a temporada anterior, os coprotagonistas não me agradaram em nada, eram mal escritos e fracos de personalidade, assim como os atores não nada de mais. Mesmo assim, continuei a assistir a série, pois as histórias ainda eram divertidas, e algumas eram inteligentes. Terminei essa segunda temporada, fui para a terceira e… Que surpresa, uma coprotagonista interessante! Parece que os personagens estão sendo melhores escritos agora, certo? Errado. A família dela era o estereótipo da sogra e adjacentes que detestam o namorado da filha. Mesmo que a filha não estivesse namorando o Doutor! Enfim, pelo menos, era melhor do o romance forçado da temporada anterior. Terminei de assistir a mais uma temporada e, bem, não há nada tão ruim que não possa piorar. Na quarta temporada, conheço a pior coprotagonista de toda a série: Donna. As anteriores Rose e Martha não eram lá grande coisa, pois eram mal escritas, e a primeira não tinha personalidade. Mas o que dizer da terceira, que tem uma personalidade extremamente irritante? Além de uma história ridícula de ela ser a pessoa mais importante no universo! Como se já não bastasse toda a arrogância e grosseria da Donna, ainda quiseram adicionar uma insegurança! Nesse ponto, eu já estava muito decepcionado em como a qualidade da série havia decaído tanto. Quero dizer, ainda havia bons episódios, mas a maioria já me parecia mal escritos e sem sentido, principalmente por focar nos coprotagonistas, e não no protagonista que dá nome à série, o Doutor! Um Doutor que era tão irritante como a Donna, que duplinha... E então, finalmente esse Doutor horrível se regenerou! Não só isso, o autor dos da maioria dos roteiros medíocres, Russel T Davies, também saiu da série! E o escritor dos melhores episódios dessas quatro temporadas que eu havia assistido, Steven Moffat, tornara-se escritor-chefe da série! Eu já estava esperando que a quinta temporada fosse tão boa como a primeira, mas fiquei impressionado ao perceber que era mil vezes melhor! Já no primeiro episódio dessa nova temporada, A Décima Primeira Hora, ver o novo Doutor soltando aquela “fumacinha regenerativa” pela boca no começo foi como um grande suspiro de satisfação, e um grande alívio de minha parte. Era um novo começo para Dr. Who, que deixaria para trás todo um mar de personagens menos que aceitáveis para que Steven pudesse explorar bem uma série com tanto potencial.

sophiecowdrey

Eu estava na sexta temporada, e, para mim, só existiam três Doutores na série, sendo apenas um maravilhoso, o atual. O primeiro era ótimo, mas se regenerou em um péssimo. O terceiro foi amor à primeira vista, e esta temporada atual foi a melhor das que eu já tinha visto! Então, terminei-a e acabei pensando que de seis temporadas, apenas duas me faziam querer continuar a acompanhar a série, as duas com o melhor Doutor. Enquanto a sétima temporada não estreava e eu não ainda não sabia se Dr. Who valia a pena, descobri a Série Clássica. Uau, existia Dr. Who antes de 2005... 26 temporadas e um filme, só de produção televisiva! Assistir alguns poucos episódios do Dr. Who do século XX já eliminou todas as minhas dúvidas, Dr. Who valia a pena, sim. As temporadas da Série Clássica eram bem diferentes das atuais, mas tinha todo aquele sabor e ousadia das até então meras duas temporadas em que Steven Moffat comandava a autoria! O que confirmou a minha suspeita de que as temporadas em que Russel T Davies foi o escritor-chefe tinham sido as piores de toda a série. Ou seja, se não fosse Steven Moffat, hoje, Dr. Who seria apenas uma má lembrança de que eu provavelmente nem recordaria.

Foi por causa de Steven Moffat que eu resolvi assistir a todos os episódios das 26 temporadas da Série Clássica, e olha que eu tenha a maior preguiça de série com muitas temporadas. Por causa desse talentoso escritor, amei Dr. Who, e pude enfim conhecer coprotagonistas decentes! Aquela sétima temporada, que eu descobri ser a segunda da série, havia estreado, mas os novos episódios pareciam um pouco mais fracos, embora não fossem nem perto de serem medíocres como os de Russel T Davies. Mas qual não foi a minha surpresa ao ver o Doutor regenerando e dando início a uma temporada tão boa como foram as duas primeiras de Steven? Enquanto isso, eu também ia assistindo aos maravilhosos episódios da Série Clássica, que não deviam nada aos atuais. Algumas histórias eram até melhores que as dos episódios das temporadas do Steven! E assim foi passando o tempo, comigo dando mais atenção aos muitos superiores em quantidade episódios da Série Clássica do que aos da Atual. Até 2017. Já faz mais de meia década que o último episódio de Steven Moffat foi exibido, e eu ainda sinto a sua falta.

Por prestar mais atenção à Série Clássica do que a Atual, acabei percebendo que Dr. Who é sobre amor e amizade, bondade e esperança, monstros e maravilhas, o épico e o íntimo, e muito mais! E Moffs soube captar essa essência com precisão e extrapolá-la a um nível nunca antes visto.

Infelizmente, RTD voltará agora no 60º aniversário de Dr. Who e me preocupa pensar o que ele tenha aprontado desta vez. Pelo menos, o Artesão Celestial está de volta e eu adoro esse vilão.

Sobre a era de Chris Chibnall, que eu nunca comentei, deixo para citar Francisco Cavalcante:

“O Doutor nunca é de direita ou esquerda, ele faz o que é preciso (e se for da forma menos danosa, melhor). Por que ela [era do Chibnall] parece ser tão politizada? Simples, pois quando o teor político é bem escrito você quase não o nota. Quando o Chibs coloca teor político nos episódios dele é de forma simplória e superficial. Oxigênio critica o capitalismo e cutuca o socialismo (Eles acharam outro erro). Criadores de Sóis é tão bem escrito que você pode usá-lo como exemplo de uma crítica ao capitalismo (ao assumir que não há alegorias a governos totalitários na trama, que é uma empresa mesmo) ou uma crítica ao socialismo (a empresa também é uma metáfora a governos). Essa é a magia de uma história bem escrita, você pode interpretá-la de muitas formas. Já os episódios da era do Chibs não debatem o tema. Eles só expõem. O arco Os Mutantes, que é uma alegoria ao apartheid, dá um banho de escrita em Rosa. Se Rosa fosse puramente histórico, assim como os Demônios de Punjab, eles seriam muito melhores. Rosa tem o Krasco, uma das coisas mais forçadas que já passou por DW. E os Demônios tem os ETs que esqueci o nome… Eles são uma cópia do Testemunho.”

No mais, só acrescento que os episódios do Chibs são muito chatos. Pelo menos, com o RTD, dá para ter alguma emoção.

Agora, deixo abaixo traduções de pequenos textos que encontrei internet afora com os quais eu concordo.

“Dizem que os demônios fogem quando um bom homem vai para a guerra.

O céu escurece e a luz diminui.

Um louco solitário, em uma caixa mágica que ele roubou.

Um homem triste, fugindo de seu passado e fugindo de seu futuro.

Desejando adeus aos amigos e dizendo "Olá" aos novos.

Um velho, com um coração de ouro e pesadas correntes de chumbo.

O Doutor, um nome de cura e um nome de guerra.

Quando ele vier, vai bater quatro vezes.

Para buscar aventura com você, e ver os dois lados de sua moeda.

Para buscar avivamento e buscar os segredos do passado.” - Jonothan Berg

“Legal que quando alguém que trabalhou com o Moffs em Doctor Who vem a público é para defendê-lo. Mas quando é com o RTD é para dizer que nunca mais vai trabalhar com ele.” - Anônimo

“Neste momento, nós finalmente entendemos o que este final foi sobre: não é sobre as rachaduras no tempo ou no fim do universo, é uma história sobre o poder de memórias e histórias, e a menina no jardim, ainda à espera de seu amigo imaginário.” - Outro Anônimo

"É difícil falar sobre a importância de um herói imaginário. Mas heróis são importantes. Heróis nos dizem algo sobre nós mesmos.

Livros de história falam sobre quem costumávamos ser, documentários falam sobre quem somos agora, mas heróis falam sobre quem queremos ser. E muitos dos nossos heróis me deprimem.

Mas, sabe, quando criaram este herói em particular, não deram a ele uma arma, deram uma chave de fenda para consertar as coisas.

Não deram um tanque ou um navio de guerra, ou um caça X-Wing, deram uma cabine telefônica que você chama quando precisa de ajuda.

E não deram um superpoder ou orelhas pontudas ou um raio de calor. Deram um coração a mais.

Deram dois corações.

E isso é uma coisa extraordinária. Nunca haverá um tempo em que não precisaremos de um herói como o Doutor."

– Steven Moffat, sobre nosso querido herói.