segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Em Defesa de... O Sexto Doutor

Textos traduzidos do Destornillador Sonico. Os nomes (de usuário) em negrito são os das pessoas que fazem parte do destornilladorsonico.com.

Colin Baker como o Sexto Doutor
JaviVD

Outro dia, como dita o costume que adquiri ao passar dos meses de “whovianismo”, encontrava-me revendo as diferentes e mais notórias páginas da internet de notícias relacionadas à Doctor Who. Depois de ver vários textos, minha vista parou em um que me chamou a atenção. E isso é dizer pouco; na verdade, lê-lo doeu-me muito como fã tanto da série como de seus diferentes formatos no Universo Expandido. Tratava-se de uma entrevista na qual Colin Baker, o ator que interpretou o Doutor entre 1984 e 1986, expressava sua decepção pessoal com o fato de que haja uma percentagem considerável de seguidores da série que, não só o têm estereotipado como “a pior encarnação da história da série”, assim como chegam a não o reconhecer até o ponto de sua fase cair no esquecimento.

Acredito que seria uma informação bastante precisa dizer que alguém que se informe sobre a série quando tenha intenção de começá-la descobriria que, por clamor popular, Tom Baker e David Tennant são os dois melhores atores que já interpretaram o renegado Senhor do Tempo. Com um pouco mais de investigação descobrirão o outro lado da moeda, ou seja, os Doutores menos queridos pelo público em geral: Colin Baker e Sylvester McCoy. Desse modo, fecha-se o círculo vicioso de propagação “boca a boca” de ideias entre seguidores da série, que desgastaram a imagem dessas encarnações (além do predomínio da Série Atual sobre a Série Clássica). Já tratei em outro artigo a parte como para mim o segundo desses dois é a sua melhor e mais ambiciosa versão (digamos que minha favorita, não gosto de pôr uns acima de outros) fornecendo ao debate uma série de razões para justificar minha posição. Hoje, disponho-me a analisar brevemente o trabalho de Colin Baker em Doctor Who, já que penso que criticar algo ou alguém sem conhecer todos os fatos é uma das piores coisas que se pode fazer, seja na série ou em qualquer outro âmbito da vida.

A primeira impressão enraizada muito fundo na comunidade de fãs é péssima quando passa de talvez uma das três melhores histórias da era clássica com As Cavernas de Androzani para o considerado como pior arco em 54 anos de série (sem contar Dimensões no Tempo, é claro) em O Dilema dos Gêmeos... onde uma das primeiras cenas do novo Doutor é vê-lo estrangulando a sua companheira. E já soa repetitivo falar de seu peculiar casaco, que, por mais mérito que tenha para servir de fantasia para os fãs, é a definição pura e dura da expressão over the top. O próprio Colin disse em diversos painéis de eventos ao longo de sua vida: “eu tinha a ideia de que o Doutor era uma pessoa que gosta de passar despercebido, então pedi mais ou menos exatamente a roupa que Christopher Eccleston usou em 2005; e, em lugar disso, o que me deram...? Uma explosão na fábrica de arco-íris! ”

A má qualidade dos roteiros se consolidou durante a temporada 22, com episódios de um nível que oscilava entre ruim e decente, sendo Desforra em Varos e Revelação dos Daleks as exceções que confirmam a regra. Acredito que nunca na história da série se equivocaram ao escolher o ator que interpretaria o Doutor, e, apesar desse fator criativo, Colin conseguia extrair ouro de tudo aquilo que lhe davam. De fato, cada vez que vejo essa atitude fria e sarcástica que o ator dava ao personagem, noto profundas semelhanças com o Décimo Segundo Doutor de Peter Capaldi, com um pouquinho da insolência de Tom Baker e um toque da teimosia de William Hartnell. Outra coisa é que um Doutor antipático ainda não cabia naquela época.

O hiato de mais de 20 meses até a estreia da temporada 23 se destacou por amplas discussões sobre o futuro da série, e duros problemas de produção são refletidos no segundo fator que o marcou. Digamos que a BBC começou em meados da década de 1980 com uma virada para o soap opera dirigido por Jonathan Powell e Michael Grade que plantaram as sementes para EastEnders e o maior fiasco da história da cadeia, Eldorado. Essas eram pessoas que manifestaram em diversas ocasiões de maneira mais ou menos direta que não gostavam nada de ficção científica e se queixaram dos pobres valores de produção alcançados e dados ruins de audiência em Doctor Who aos finais da década de 1980, depois de cortar seu orçamento à metade. Quem não acredita em mim ou quer comprovar por si só que busque no YouTube “Michael Grade – Doctor Who.avi”, onde se observa em 5 minutos à perfeição sua atitude de menosprezar o gênero e a série. Apesar de eu considerar O Julgamento de um Senhor do Tempo como um dos arcos mais desvalorizados do cânone pelos temas que trata (corrupção em Gallifrey, o obscurantismo e manipulações da Celestial Intervention Agency e a introdução do personagem Valeyard), entendo, posso entender, a má fama que possui por ser um retrato do que estava ocorrendo nos bastidores: a série estava sendo julgada com uma lupa.

Colin Baker é uma pessoa que passou por problemas tanto relacionados ao trabalho (sendo o único ator protagonista que foi despedido do papel) como ao pessoal em diferentes momentos de sua vida; mas cujo carinho pela série deve ser apreciado e respeitado sobretudo: na verdade, sua intenção era permanecer nela até igualar ao recorde de Tom Baker; nem mais nem menos que 7 anos. Atualmente, graças à plataforma que a Big Finish proporcionou ao ator para interpretar o seu Doutor continuamente em áudio dramas, foi dado a ele a oportunidade de lavar a imagem que as pessoas têm de seu personagem (coisa que nunca se cansa de repetir) graças a uma ampla seleção de novos roteiristas e escritores de grande talento, que lhe proporcionaram novas e mais ambiciosas aventuras e companheiros. Sério, se você tem um nível decente de inglês, precisa ir à página de internet da Big Finish e ouvir The Holy Terror de Robert Shearman; uma das melhores histórias em qualquer formato (e agora só custa 2,99 € para baixar; assim, dinheiro não é desculpa).

Como Sylvester McCoy (talvez em maior medida), Colin foi vítima de estar no pior momento; por isso, atribuir a ele 100% da culpa do fracasso da série em meados da década de 1980 e seu posterior cancelamento é um argumento muito pouco fundamentado. Atrevo-me a dizer que talvez seja o ator que, dos 12 Doutores, preocupou-se e esforçou-se em ter um lugar na história da série sem medo de ser rotulado de forma simplista; já que, como todos nós, é um fã mais... não como outros (cof, cof, Eccleston, cof, cof). E concluo esta coluna com um desses hashtags, tão populares hoje em dia: #NãoPuleOSexto.

DrWhoelDoctor

Na década de 1980 ocorre o declínio de dois ícones da cultura britânica: James Bond e Doctor Who, dentro desse declínio culpa-se os atores que interpretaram esse papel naquele momento.

Nessa tormenta aparece Colin Baker, uma tentativa de dar um novo ar à série, mas a sensação que tenho é como quando em uma embarcação uns remadores remam em uma direção e outros em outra. Não pode ser que se querem dar a sensação de um Doutor mais focado a um público maior, como pode ocorrer na atualidade com Peter Capaldi, e vesti-lo como um dos palhaços de Micolor, alguns de nós pensaríamos: essas pessoas são profissionais da televisão?

Eu reconheço que demorei muito para sentar e ver os episódios do Sexto Doutor, por sua horrenda vestimenta. Sentei para ver episódios, em meu escasso tempo livre, e há autênticas obras-primas como Desforra em Varos, que poderia competir facilmente com o maravilhoso Blade Runner. Fui surpreendido por muitas coisas: o mau-caratismo que o Doutor desprende, maltrata em algumas ocasiões a Peri e quer estrangulá-la depois de uma regeneração problemática; o uso da ironia; a interpretação e uma voz clara, quem não é nativo em inglês pode entender perfeitamente o Sexto Doutor.

Poderia centrar minha defesa ao Sexto Doutor atacando os outros Doutores que foram mal, mas foram perdoados por serem bonitos, por terem popularidade na imprensa ou porque outros fizeram para que fracassem na série; isso eu deixo para os chamados haters, eu não faço essas coisas. Eu perguntaria aos que odeiam o Sexto Doutor se eles sentaram para vê-lo ou se ouviram seus audiolivros, mais de 70% seguramente não viram nem um só arco, nem escutaram um só audiolivro. Deem-lhe uma oportunidade, não foi ele o culpado de que Doctor Who parou de ser transmitido, suas histórias são boas (provavelmente há alguma intragável, mas isso acontece com todos os Doutores) e só ocorre que foi um Doutor errado em seu momento, talvez na atualidade falaríamos de um dos melhores Doutores, basta ver que o Doutor de Capaldi é um clone dele mesmo, como disse o próprio Baker, tem muitas características em comum, salvo que Capaldi possui um vestuário melhor, uma melhor equipe de produção e o público é o correto para aceitar um Doutor desse tipo.

Disorder80

Doctor Who sempre foi uma série em eterna mudança, parece que sempre precisamos ter a cada dois ou três anos uma mudança significativa na série. Uma troca de companheiro, uma regeneração do Doutor... todas essas mudanças são discutíveis e o público não as recebe muito bem. Esse é o caso do Sexto Doutor.

John Nathan-Turner tinha uma ideia, um Doutor que contrastara muito com o Quinto Doutor, e depois de sua difícil regeneração em As Cavernas de Androzani, encontramos um Doutor desequilibrado que em seus primeiros minutos tenta assassinar sua companheira, uma companheira que sua anterior encarnação morreu para salvar. Mas em minha opinião foram cometidos vários erros: o primeiro é o vestuário do Doutor. Influenciado por certas estéticas oitentistas, o armário de Doctor Who tornou-se exagerado e colorido ao extremo, beirando o grotesco. Um Doutor com o caráter do Sexto se desmerecia em excesso por uma jaqueta miscelânea de impossíveis retalhos fazendo uma piada de sua aparência. Colin Baker podia se esforçar fazendo boas interpretações que seu vestuário manchava sempre sua atuação fazendo-a menos crível. Igualmente, o Sexto Doutor estava concebido para ter uma evolução e converter-se em um Doutor mais “amável”, mas seu desenvolvimento foi abortado. O impacto negativo de suas primeiras histórias e as quedas de audiência foram aproveitadas por Michael Grade e Jonathan Powell para pô-lo como desculpa e tentar acabar com Doctor Who. Uma pausa que não foi definitiva devido à reação dos fãs. Quando Doctor Who voltou às telas com O Julgamento de um Senhor do Tempo, encontramos o Doutor em um julgamento sobre seus atos passados e futuros; talvez não fora a melhor escolha de roteiro, embora uma vez concebida e executada já não há mais como voltar atrás. Sua era foi muitas vezes criticada, entretanto, todos os seus arcos têm algo especial para serem lembrados; Desforra em Varos é excelente, a criação de uma personagem como a Rani, agora presente em todas as espécies de vilãs com o retorno da série, ou o Valeyard que tantos problemas deu em suas últimas histórias, provocaram grande interesse em especulações, por isso nem é um Doutor que não deixou marcas.

Com o tempo, a Big Finish foi encarregada de pôr o Sexto Doutor no lugar que era seu por direito. Ainda é um Doutor um pouco mal-humorado, mas desdobrou toda uma série de tons como têm todos os Doutores. Preenchendo lacunas e suavizando-o, converteram-no em um dos Doutores mais valorizados em áudio. Embora omitam de suas aparições em áudio, mudaram até o seu vestuário para fazê-lo mais sóbrio. As histórias do Sexto Doutor merecem ser vistas. Seu caráter irascível e instável lhe proporcionava um mistério que o Quinto Doutor não tinha e esse é precisamente seu atrativo. O Doutor é um alienígena, mas de vez em quando é necessário que isso nos seja lembrado, porque parece que esquecemos.

Quanto às histórias em áudio do Sexto Doutor, se vocês podem, também os incentivo a escutá-las, são excelentes, Javi já escreveu sobre algumas, eu acrescentarei que histórias como Jubilee, Masters of Earth, The One Doctor, The Curse of Davros ou Mission to Magnus elevam o Sexto Doutor ao posto dos melhores Doutores.

Todas as encarnações do Doutor contribuem com novos tons para o caráter do Doutor e o Sexto Doutor não é uma exceção. Aqueles que só viram a nova série, se começarem a ver suas primeiras etapas, descobrirão como detalhes que agora são comuns foram se incorporando à série. Sem as regenerações anteriores do Doutor, não estaríamos desfrutando agora de novas temporadas, já que cada um pôs um grãozinho de areia na construção do personagem.

Arquivo Pessoal do Tradutor
Nota do Tradutor

Dentre o pouco que discordo nesses textos, destaco o que foi mencionado sobre a roupa do Sexto Doutor ser “horrenda”, que não combinava com o caráter do personagem, etc. Discordo plenamente, considero aquele fabuloso casaco colorido a melhor roupa que o Doutor já vestiu em todas as suas encarnações, é simplesmente uma linda explosão de cores. Fora isso, também discordo de que As Cavernas de Androzani seja uma das melhores e O Dilema dos Gêmeos seja uma das piores histórias da série (a primeira não me agrada e a segunda eu me diverti horrores nas vezes que vi), sem falar que eu considero a 22ª temporada uma das melhores da série. Mas nada disso desmerece esses ricos textos sobre essa maravilhosa encarnação do Doutor! E o "Whovianismo", que eu incluí as aspas, parece ser algo relacionado com a comunidade de fãs de Dr. Who, mas não sei exatamente o quê, então não soube como traduzir. Ah, se eu tiver traduzido algo errado ou se o texto parecer confuso em algumas partes, não se acanhe, pode me corrigir. Lembrando que eu adaptei algumas partes para melhor entendimento. Traduzir é adaptar, afinal de contas...