Tudo começou
em 1987. A 23ª temporada, mais conhecida como O Julgamento de um Senhor do Tempo, encerrou a polêmica etapa de Colin Baker como o Sexto
Doutor, sendo o primeiro e único ator na história da série a interpretar o
Senhor do Tempo que foi despedido do papel (sem cena de regeneração). Foi
talvez a época mais agitada da série; uma amálgama de diferentes fatores que
foram o princípio do fim para a série clássica: pessoas dentro da BBC que não
acreditavam na ficção científica e faziam roteiros de má qualidade. Tende-se a
culpar o ator Colin Baker desse fracasso por ser a cara visível da série, mas a
verdade é que ele extraía ouro dos roteiros que lhe davam. Não acredito que
ninguém jamais se equivocará ao escolher um ator para interpretar o papel, mas
esse tema merece outro artigo a parte.
E chegou a vez
do Sétimo Doutor e Sylvester McCoy foi o escolhido. Se você procurar imagens
dele poderá vê-lo caracterizado: um homenzinho sorridente; baixinho, com seu
mítico chapéu, agasalho de pontos de interrogação e guarda-chuva e com pinta de
inofensivo. Mas como diz o ditado: as aparências enganam...
Com o Sexto
Doutor, John Nathan-Turner (o produtor de então) e seus roteiristas quiseram
mudar bastante a figura do Doutor, querendo mostrar pela primeira vez que tinha
um lado obscuro (reconheçamos, apesar de suas diferenças e a dose normal de
arrogância, os Doutores anteriores eram muito bondosos). O problema é que a
dita transição foi brusca demais, retratada à perfeição na cena de
pós-regeneração de O Dilema do Gêmeos (talvez o pior episódio da
história de Doctor Who) em que o 6º estrangula repentinamente a sua companheira
Peri; e é melhor nem falar do casaco de arco-íris que escolheram para ele. Talvez
porque em 1987 a série tinha data de validade, decidiram fazer no tempo que
restava as coisas o melhor possível com uma evolução mais lenta e sutil, além
de necessária, já que McCoy era um ator que vinha do gênero cômico: daí a 24ª
temporada com Mel, que foi muito mais leve do que o que veio depois...
As temporadas
25 e 26 (talvez seja algo muito subjetivo dizer) estão cheias de preciosidades:
Recordação dos Daleks, Luz Fantasma, Campo de Batalha, O Maior Espetáculo da
Galáxia e, é claro, minha história favorita dos primeiros 26 anos de série, A Maldição de Fenric. A fórmula normalmente era que o Doutor chega
a um local com seus companheiros, ocorre coisas que escapam a seu controle e
age em consequência. Com o 7º passamos dos Doutores passivos ao Doutor
proativo, ou como gosto de chama-lo: “O obscuro mestre de xadrez universal”. Na
maioria de suas aventuras, chega a um lugar e, desde o início, está envolto em
um de seus super-planos mestres, quer que tenha percebido desde o início ou não
(coisas de viajar no tempo) e quase sempre ocultando suas intenções a seus
acompanhantes (coisa que, às vezes, termina por cobrar seu preço). Nesse tipo
de história, o Doutor de McCoy dá a impressão de ter todas as cartas na mão em
99% do tempo. Para os que veem “Guerra dos Tronos”, em certo sentido é como o Petyr
Baelish de Doctor Who.
Parte da
beleza de sua época se deve, na minha opinião, à escolha de elenco para a nova
companheira do Doutor: Sophie Aldred como Dorothy “Ace” McShane, uma desajustada
com problemas familiares que em seu tempo livre bate em Daleks com bastões de
beisebol e usa uma bazuca para explodir o rosto deles. Poderia dizer que assim
recuperaram de certa forma essa espécie de relação “avô-neta” dos primeiros
anos da série com o Primeiro Doutor e Susan. Para mim, a química que tiveram
não a iguala ou supera ninguém mais e é adorável a confiança que chegam a ter
(de fato, ela o chama de “professor”). E sempre pensei que se a série não
tivesse acabado daquela forma, poderiam ter se convertido em um par tão popular
como foi em seus dias o 4º e Sarah Jane Smith. É o exemplo perfeito de que a
soma das partes é maior que seu valor individual, que também é tremendo. Ace
fica perfeitamente bem por conta própria e, apesar de ser uma mulher de ação, sabe
utilizar a cabeça e a boca muito bem (coisa que tentaram fazer com Clara na 8ª temporada da Série Atual).
Nota do Tradutor
Não concordo
100% com o texto acima - apesar de concordar demais com algumas parte, como na que diz que tentaram e não conseguiram transformar a Clara em uma nova Ace -, mas quis traduzi-lo por considerá-lo uma ótima leitura
para quem se interessa por Dr. Who e por acreditar que quanto mais conteúdo da
Série Clássica em português, melhor. Além de que o próximo artigo a ser publicado
no Aniliquajo será um compilado de três textos sobre o Sexto Doutor, que conta com texto do
JaviVD, o autor do texto acima. Minhas opiniões sobre esses e os outros Doutores
ficará para um artigo futuro, baseado no livro 12 Doutores, 12 Histórias. E se eu tiver traduzido algo errado, não se acanhe, pode me corrigir.
Lembrando que eu adaptei algumas partes para melhor entendimento.
Traduzir é adaptar, afinal de contas...