Harry Potter não é ruim, muito longe disso. Agora,
incomoda-me muito pessoas chamarem a Jo de gênio por escrever os livros dessa
saga. A escritora Joanne Rowling pode ter feito muito sucesso, mas não deixou
de cometer vários erros em sua história do bruxinho britânico. Não escrevo como
uma pessoa aversa a esse mundo de magia e bruxaria, tenho todos os livros e
DVDs de Harry Potter, é um bom passatempo, há várias qualidades nessa obra. Mas
também vários defeitos. O mais notável é a divisão de casas de Hogwarts,
principalmente pelo destaque que Jo dá para Grifinória e Sonserina, as
maniqueístas boa e má, e o quase completo esquecimento pela Lufa-Lufa, a casa
da empatia, da aceitação, da igualdade. E tal defeito A Arma Escarlate não
possui.
Na maioria, se não for em todas, as entrevistas que a
escritora Renata Pacheco Ventura dá, ela afirma que "já vinha pensando em
como seria uma comunidade bruxa no Brasil há algum tempo, mas a ideia de
escrever, de fato, o que eu estava imaginando, veio quando vi uma entrevista
com a J.K. Rowling. Nela, um jovem norte-americano perguntava à autora se ela
um dia escreveria um livro sobre uma escola de magia nos Estados Unidos. Ela
respondeu que não, mas sugeriu que ele próprio escrevesse! Foi então que decidi
fazer o mesmo, só que no Brasil!". E Renata não só fez, como melhorou
absolutamente cada aspecto que Harry Potter apresenta, em A Arma Escarlate.
Corro o risco de estar usando uma hipérbole, mas não lembro de uma só
característica abordada nos livros da Jo que a Renata não aprimorou em seu
primeiro livro do bruxinho brasileiro. É realmente impressionante a semelhança
e a diferença entre as duas obras, são completamente distintas, contudo, por se
passarem ambas no mesmo universo, há várias correlações.
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Renata Ventura não só possui uma escrita suave e cativante
como a própria Jo, como insere críticas sociais muito longe de serem sutis, ao
contrário da Jo. Li o primeiro livro de Hugo Escarlate com o mesmo prazer que
li os sete de Harry Potter, mas nos livros do bruxinho britânico eu não percebi
tanta riqueza de conteúdo, nem fiquei espantado com o conteúdo da história. Há
muito conteúdo desnecessário em Harry Potter. Em A Arma Escarlate, não. A
própria Renata sinaliza que "os temas são infinitos quando o cenário é o
nosso enorme país continental." E ela aborda esses temas com a maestria que
só uma grande escritora possui, explicando sem didatismo os problemas e as
belezas do Brasil. Não que a didática seja um demérito, mas poderia afastar os
jovens decepcionados com a situação da educação brasileira.
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Divulgação |
O que escrevi acima é uma comparação de toda a franquia
Harry Potter com o primeiro livro de Hugo Escarlate. Só o primeiro livro! Um
livro que possui mais conteúdo que uma franquia inteira, porque ele vai além do puro entretenimento. Exemplifico essa minha
afirmação com o protagonista de ambas obras: enquanto o Harry é insosso,
Hugo é forte. Hugo não é o escolhido de nada, é só mais um garoto que luta
contra as adversidades do dia a dia de um morador de favela, que é outro ponto
positivo de A Arma Escarlate!
Destaco mais uma qualidade, dentre os aspectos que Jo omitiu
em sua obra, mas que Renata brilhantemente utilizou: a perfeita mistura do mundano
com o fantástico. Nos comentários em áudio do DVD do meu filme favorito de super-heróis -
ou super-herói - Os Incríveis, os realizadores
falam sobre como essa mistura é a essência de Os Incríveis, pois o grande
sucesso desse filme maravilhoso é tornar os super-heróis verossímeis, algo que
raramente ocorre. E isso Renata faz com primor, intercalando os conflitos
mundanos da pobreza com o fantástico mundo da bruxaria.
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DeviantArt |
Eu gosto de dizer que Dr. Who só seria melhor
se fosse brasileiro. Bem, aqui está um exemplo perfeito de como uma obra
brasileira é superior ao seu exemplar britânico. Como eu comentei no início
deste artigo, um dos aspectos que tornam essa superioridade possível é a não
divisão de casas em uma escola no Brasil, mas uma divisão de escolas no Brasil,
existindo cinco escolas de magia e bruxaria nesse universo fantástico, portanto.
Obviamente, há distintos grupinhos que organicamente se separam dentro de cada
escola, que é o principal motivo de não haver nenhuma necessidade de a escola separar seus alunos.
No final, o verdadeiro gênio em toda essa história é a
escritora carioca, e não a britânica. E "belo e brutal", elogio que
consta na quarta capa do livro, não poderia melhor sintetizar o que A Arma
Escarlate é.
"A série até agora tem se mostrado, na minha opinião, melhor do que a obra que a serviu de inspiração. Impecável o jeito da autora de expressar um ponto de vista cordial e justo através dos personagens. Ficam muitas lições aprendidas. Além de ensinar um pouco da história do Brasil. Aguardo ansiosamente as sequências." - Cliente Amazon
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