quinta-feira, 14 de julho de 2022

A Praga Maldita

Em uma noite tranquila, em algum lugar do Brasil, vivia uma família composta por pai, mãe, caçula e irmã mais velha. Os quatro moravam em uma casa modesta, mas espaçosa, com quintal pequeno, mas que rodeava a moradia. Nesta noite, esta família estava na sala assistindo à televisão. Ainda não era hora das crianças dormirem. Quando, não mais que de repente, todos ouviram sons estranhos vindos do quintal em frente à porta. Os quatro desviaram o olhar da TV para a porta da frente. Porta que abriu-se devagar. O pai perguntou-se se não a tinha trancado, mas antes de verbalizar a dúvida, surgiu uma criatura que não tinha como ser outra coisa que um alienígena. Era maior que a pessoa mais alta da casa, a cor de sua pele era azul-marinho e não parecia vestir roupas, embora não mostrasse órgãos genitais. Também possuía uma antena no meio da testa, de onde vinha os barulhos indescritíveis que a família agora ouvia. Os sons de outrora deviam ser de sua espaçonave, pensou o caçula. A antena da criatura musculosa e intimidadora vibrava, mas o resto de seu corpo estava parado. O ET havia dado poucos passos e fechado a porta sem encostar nela e agora jazia defronte aos quatro humanos como uma estátua. Eles estavam paralisados de medo. Bem, foi o que pensaram, mas, na verdade, a criatura tinha poderes psíquicos, canalizados pela antena, que faziam aquelas pessoas modestas não se moverem. Era difícil até de respirar. A irmã do caçula choraria se não estivesse paralisada. A mãe sentia-se impotente por não conseguir ajudar seus filhos. O pai estava com raiva por não conseguir ver seu jornal noturno. Por horas, o medo tomou conta dos quatro, enquanto a criatura azul ficava parada, impassível, com apenas a antena mexendo. Os barulhos que dela vinham apavoravam a família que nada podia fazer. Estavam consumidos pelo terror. O caçula, que amava histórias de terror, percebeu como não era nada divertido quando uma acontecia na realidade. Depois do que pareceu uma eternidade, amanheceu. Com os primeiros raios solares batendo nas janelas ao lado da porta, veio o estremecer do alienígena. Sua antena parou de vibrar e ele cambaleou para frente, mas fumaça já começara a sair de seu corpo. Sua pele borbulhava e ele queimou rapidamente na frente dos olhares temerosos daqueles que haviam sido suas vítimas até então.

Da criatura humanoide e moderadamente grande, restaram apenas cinzas. Seu reinado de terror havia acabado. Ou era o que a família pensou. Após escurecer, depois de os pais voltarem do trabalho e as crianças, da escola, a casa estava tranquila como de costume, até os quatro começarem a sentir falta de ar. Sentiam um cheiro estranho no ar e poeira caia do teto, como se nevasse. A mãe achou que fosse mofo. E não estava totalmente errada, mas… que mofo cresceria tão rápido em um lar que ela limpava com frequência? O caçula sabia da resposta: um mofo alienígena. Não que fosse mofo de verdade, mas, com certeza, eram fungos o que o ET azul havia instalado naquela residência modesta. Ele planejava transformá-la em seu esconderijo, e o fungo era seu alimento. Mas morreu, pois desconhecia que sua fraqueza estava presente naquele planeta por metade do dia.

O caçula falou com o pai que falou com a mãe. Ela disse que os produtos de limpeza estavam na área de serviço. O pai correu para lá, tossindo como os demais. A sua filha mais velha já desmaiara de falta de ar. Ele entregou desinfetantes e álcool para quem ainda estava de pé. Com esforço, os três conseguiram limpar aquele mofo. Foi difícil, mas o ar da casa estava respirável novamente. E tudo voltou ao normal… mas não para sempre. Era um fim de semana. E, desde então, todo fim de semana aquele fungo maldito voltava, fazendo com que aquela família vivesse em constante sofrimento. Nem todo fim de semana a praga alienígena vinha com a mesma intensidade. Às vezes, até dava para respirar. Às vezes, os quatro saíam e, quando voltavam, o mofo já havia sumido. Mas havia dias em que nem todo produto de limpeza do mundo era o suficiente para tornar aquele ambiente suportável.