sábado, 11 de novembro de 2017

Os Laços e as Lições da Turma da Mônica

É engraçado como a Turma da Mônica é o núcleo das criações de Maurício de Sousa que menos me agrada. Engraçado porque é o principal e mais famoso núcleo da MSP, mas seus quatro protagonistas são os personagens que menos aprecio dos vários criados pelo Maurício. Possuo grande carinho pelas Turmas do Chico Bento, do Astronauta e do Penadinho. Mas meu carinho por Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali é pequeno comparado com o por Do Contra, Louco, Denise, Franjinha, Xaveco, entre outros “secundários” da Turma da Mônica. Apesar disso, sempre li os quadrinhos dos quatro principais pela diversão das histórias, dos bons e inteligentes roteiros, da maravilhosa arte, não pelos personagens em si. Parando para pensar, um dos motivos por essa minha falta de apreço possa ser os defeitos em demasia que esses personagens têm, muito mais que os outros que mencionei acima. Não me agrada as histórias sobre o medo do banho do Cascão, a gulodice da Magali, a dislalia do Cebolinha ou o excesso de força – que deveria ser uma qualidade – da Mônica, por exemplo. Apesar disso, adorei os romances gráficos Laços e Lições, produzidos por Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi.

Arquivo Pessoal

No prefácio do Maurício para Laços ele descreve perfeitamente o trabalho de Vitor e Lu: “Para muitos, seria uma responsabilidade incomensurável. Para eles, foi apenas como brincar com amigos que os acompanharam desde a infância. Assim como o Danilo Beyruth fez no álbum de estreia do selo Graphic MSP, Astronauta – Magnetar (você leu, né?), os irmãos Cafaggi capturaram a essência de meus personagens e adicionaram brilhantes toques pessoais. O resultado é uma história linda e comovente, para ser lida e relida e que emociona justamente por mostrar as coisas simples da vida do jeito que elas são... pelo olhar das crianças.”

O Maurício também diz que o quadrinho remete a filmes da década de 1980, o que não seria nenhum incômodo, se não fosse referências como “Guerreirooos? Por que não vêm aqui brigaaar?”, fala de um personagem do filme Os Selvagens da Noite e que não me agrada. Não só por isso, mas é possível que quem desconheça o filme fique com uma cara de paisagem ao chegar nesse ponto da HQ, que é uma falha de uma obra do entretenimento. Obviamente, também há várias qualidades em Turma da Mônica – Laços, como referências a histórias antigas da turminha que não fazem diferença nenhuma para quem as desconhece, mas dá um toque especial para quem as conhece.

A história é um maravilhoso conto sobre belas relações humanas - os laços de amizade, o roteiro é bem amarrado e a arte, linda. Destaque para os sapatinhos das crianças, uma gracinha. Isso também se encaixa com o segundo álbum, que é quase tão bom como o primeiro, mesmo com as ressalvas que fiz. Também vale destacar a mudança de estilo da narrativa presente e de quando algum personagem tem boas lembranças. Conduzidas de forma prazerosa, ambas as histórias têm seu valor emocional e mercadológico.
Arquivo Pessoal
 No prefácio de Turma da Mônica – Lições, Maurício novamente faz uma primorosa descrição do que está por vir: “O título deste álbum não poderia ser mais propício. Afinal, a palavra lições carrega diversos significados, que podem ser aplicados a qualquer um de nós durante toda a vida.” Na história, são apresentadas lições de casa, lições de amizade, lições de vida e as lições que os pais precisam dar para os filhos se corrigirem. Essas últimas, infelizmente, aparentam não ser muito eficazes.

O maior demérito de Lições é que me lembrou o péssimo Curtindo a Vida Adoidado, em que os protagonistas enganam todo mundo e saem como “os bonzãos” no final. Não há castigo ou mesmo a descoberta da falta de honestidade dos personagens. E isso me incomodou em Lições. Cebolinha, Mônica e Cascão mentem para os seus pais e a Magali esconde algo dos seus, atitudes repreensíveis porque é provável que um simples pedido de ajuda para seus responsáveis pudesse resolver os problemas que havia. Os personagens aprendem as lições de vida que mencionei, mas acredito que isso não justifique esse erro deles. A narrativa podia ao menos tê-los castigado de alguma forma.

Também me desagradou haver uma espécie de desconhecimento dos pais das características famosas dos filhos, como o pai do Cascão matricular o filho em aulas de natação e a mãe da Mônica dizendo-lhe que ela “não é superforte...”, nem que ela seja “uma super-heroína. É só uma menina”. E que isso é tudo que ela precisa ser, algo inconcebível com a construção da personagem em décadas de quadrinhos. No final esse erro é redimido, pois é dado a entender que a Mônica percebeu que sua mãe estava errada. Uma boa lição, aliás, pois nem sempre nossos pais estão certos, por mais que queiram nosso bem.