quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

O Demônio do Quarto Andar

Esta é uma história real, aconteceu com um amigo de um amigo meu.

E eu vou escrevê-la como me foi contada pelo meu amigo, que repetiu as palavras de seu amigo. Se a história não fosse tão assustadora, eu acharia graça, pois isto parece uma tradição oral.

Meus pais tinham saído para comprar comida no supermercado, e eu estava tranquilo no apartamento em que eu morava desde que eu nasci. Estava vendo televisão, um desenho animado que eu gostava passava na tela, quando foi interrompido por uma notícia urgente de que um bandido havia fugido da ala psiquiátrica da prisão. Ele foi preso por assassinar seis pessoas a marteladas. E sabia escalar prédios. Fiquei com medo no início, mas logo percebi que era extremamente improvável que ele estivesse próximo a mim. Quem dera eu fosse mais desconfiado. Queria eu que minha suposição estivesse certa.

Do nada, um som terrível veio de minha janela, era o maníaco! Ele entrou em minha moradia tão de repente que nem deu tempo de eu revidar. Mal percebi e ele já tinha martelado a minha cabeça. Corri gritando de dor até a porta do meu apartamento. Desesperado, mas ainda são, abri a porta, peguei a chave e tranquei o ladrão lá dentro. Não havia mais chaves para que ele pudesse abrir. Claro, era uma questão de tempo até o bandido derrubar a porta com o martelo.

Eu corri para as escadas. Lá, era o meu porto seguro. Por um momento, eu tinha paz. Mas, então, comecei a ouvir barulhos assustadores vindos do Quarto Andar. E o pior: o louco que nem parecia humano já começara a martelar a porta que havia sido trancada! Desci as escadas e encontrei a saída fechada. Não consegui a abri-la de modo algum. Mais tarde, soube que foi obra do assassino, que também havia inutilizado os elevadores.

Ainda com a cabeça dolorida, resolvi seguir os barulhos monstruosos. Talvez, seja lá quem fosse que estivesse emitindo aquele doloroso som, pudesse me salvar. Entrei no andar e vi a porta do apartamento 407 entreaberta. Não pensei duas vezes e fui entrando. Mas, lá dentro, o que eu vi não parecia nada além de um demônio. A criatura não tinha forma definida, era muito desfigurada, mas dava para identificar uma boca cheia de dentes afiadíssimos naquele amontoado de carne azul. Eu nunca havia visto e nunca voltei a ver algo sequer semelhante àquilo.

Novamente, repentinamente, o maníaco do martelo entrou no 407. Atraído pelo barulho que a criatura emitia, eu suponho. Até aquele momento, ela parecia não ter notado a minha presença, mas foi só o martelo do fugitivo brilhar na pouca luz que entrava por uma janela quebrada, que o demônio percebeu. E não ficou apenas observando, ele pegou a parte metálica com sua língua comprida e vermelha, bifurcada como a de uma cobra, mas diferente de qualquer língua de cobra que eu já vi. Doido que só ele, o assassino não largou o martelo de jeito nenhum e foi engolido pelo demônio, que parecia mais se importar com o martelo do que com o meliante grudado à ferramenta.

Eu aproveitei para fugir dali e bater a porta, mas não sem antes ouvir o som de mastigação mais estranho da minha vida.

Quando voltei para casa, meus pais já estavam lá, assustados por causa do estado da casa. Eu contei a eles tudo o que aconteceu, mas eles só acreditaram na parte do maníaco.

No dia seguinte, voltei ao quarto andar, para agradecer ao demônio por ter cancelado o CPF do meliante. Talvez eu pudesse me comunicar com a criatura e entendê-la melhor, pensei eu. Toquei a campainha, bati na porta, mas não houve resposta. Então, fui ao porteiro perguntar sobre o apartamento 407. Ele me informou que aquela habitação estava vaga já fazia anos.

Nota do Autor:

Quando criança, eu adorava aquela série da Cartoon Network chamada de Freaky Stories, então resolvi homenageá-la no começo deste meu conto inspirado em experiências traumáticas minhas. No Brasil, a série animada não recebeu um título e aparecia em meio a intervalos comerciais. "Originalmente, várias histórias faziam parte de cada episódio. No Brasil, as histórias foram exibidas individualmente.", segundo a Wikipédia. Ficou conhecida pela famosa frase cujo O Demônio do Quarto Andar se inicia.