terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

O Chamado do Cuco

Este é um Simples Comentário, para saber mais, leia a introdução.

The Cuckoo's Calling

2013

Reino Unido

Depois de perder sua perna em uma mina no Afeganistão, Cormoran Strike investiga o suicídio de uma supermodelo, pensando estar apenas tocando sua vida como investigador privado. Strike conseguiu um cliente e os credores o estão chamando. Ele também terminou com sua namorada de longo prazo e está vivendo em seu escritório.

Então, John Bristow passa por sua porta com uma história impressionante: sua irmã, a lendária modelo Lula Landry, conhecida por seus amigos como Cuco, notoriamente havia morrido alguns meses atrás. A polícia julgou como suicídio, mas John se recusa a acreditar nisto. O caso liga Strike com o mundo dos belos milionários, namorados rockstars e designers desesperados, e isso o introduziu a todas as mais diferentes formas de prazer, tentação, sedução e ilusões que o homem conhece.

Duas Estrelas e Meia

Mais ou menos, podia ser melhor.

Depois de ler O Ickabog, fiquei curioso para conhecer uma história adulta de J. K. Rowling, mas ela me decepcionou com O Chamado do Cuco. Entretanto, como ela utilizou um pseudônimo, chamá-la-ei por ele daqui em diante. O primeiro livro de Robert Galbraith não chega a ser ruim, mas tem muitos deméritos que fazem sua leitura ser sofrida. O que compensa é a excelente qualidade da escrita, que, por mais que a história tenha muita enrolação, fez com que eu não abandonasse a obra.

Eu posso resumir grosseiramente O Chamado do Cuco como um amálgama de ofensas gratuitas, conflitos de identidade e raciais, personagens extremamente desagradáveis, superficialidades do mundo das celebridades e um pouco de erotismo. Ah, claro, tem muita investigação também, mas é a parte mais desinteressante, principalmente por causa dos personagens; até porque a maioria da investigação é focada em interrogar os suspeitos. Só 5 personagens são bons: Cormoran, John Bristow, Robin (uma fofa), Lechsinka (uma loura baixinha e sedutora) e Yvete. Fiquei até triste ao ler a conversa entre esta última e Cormoran. Uma personagem adorável, mas digna de pena. Ultrafeminina como foi descrita, merecia ter aparecido mais no livro. Lechsinka também foi uma grata surpresa, com seu “inglês de merda”, seu jeitinho atraente e sua eficiência. Robin é a que deveria ser a protagonista, feliz com seu vindouro casamento e bem entusiasmada para assistir o detetive, mas, infelizmente, o protagonismo recai para Cormoran, que não deixa de ser um personagem maravilhoso, mas tem muitos defeitos, o pior deles sendo sua desonestidade. Robin é muito mais agradável de se acompanhar. Das personagens menos gostei está a que dá título ao livro: Cuco. Que garota mimada e ingrata, como bem disse o tio dela. Este que também não é flor que se cheire, mas soube interpretar seus parentes corretamente.

Outro ponto negativo do livro é a tradução que não traduz certos termos como “self” e “closet”, entre outros, mas, para compensar, o vocabulário é bem abrangente. Como já comentei, há palavrões em demasia e sem justificativa; ainda por cima, “filhodaputa” foi escrito assim, tudo junto, nunca vi isso. ”Cê-cê” não é palavra de baixo calão, mas também tem uma ortografia incomum. E, diferente de Agatha Christie, Robert não descreve ambientes satisfatoriamente bem; não consegui imaginá-los ao ler O Chamado do Cuco.

Aviso: este texto contém revelações sobre o enredo.

Das qualidades da história, também aponto algumas reflexões, como “Os mortos só podiam falar pela boca dos que ficaram e pelos sinais que deixavam.” e “Ele nunca conseguiu entender o pressuposto de intimidade que os fãs sentiam por aqueles que nunca conheceram.”

O livro tem inúmeros personagens desagradáveis, mas o assassino tinha que ser um dos poucos simpáticos! Admito que foi surpreendente, mas também muito frustrante. E devo admitir que ler Strike revelando ao assassino tudo o que ele fez foi brilhante. Nisso, Robert seguiu a linha de Agatha Christie de o culpado ser um dos melhores e mais inofensivos personagens. Nunca desconfiei dele, ainda mais porque foi John que contratou o detetive. Mas isso não exime a obra de ter mais de 400 páginas! 200 já estaria de bom tamanho, pois há muito conteúdo desnecessário.

Eu já estava visando comprar outros livros de Robert, até porque estão mais baratos que este primeiro; contudo, adiarei a leitura deles indefinidamente, prefiro adquirir mais Agatha Christie e Lucy Maud Montgomery.

P.S.: Esqueci de comentar uma cena marcante logo no início do livro, em que Robin está para cair da escada quando Strike salva-a segurando um de seus seios! Fora o final, esta foi a melhor cena da obra; hilária, rio só de lembrar. A coitada massageando os peitos depois... Muito bom.