sábado, 9 de dezembro de 2023

O Ickabog

 Este é um Simples Comentário, para saber mais, leia a introdução.

The Ickabog

2020

Escócia

O reino da Cornucópia já foi o mais feliz do mundo. Tinha muito ouro, um rei com os melhores bigodes que você poderia imaginar, e açougueiros, padeiros e queijeiros cujas comidas deliciosas faziam uma pessoa dançar de prazer. Tudo parecia perfeito, mas nos pântanos enevoados ao norte, segundo a lenda, vivia o monstruoso Ickabog. Qualquer pessoa sensata sabia que o Ickabog era apenas um mito para assustar as crianças e fazê-las se comportar. Mas quando esse mito ganha vida própria, lançando uma sombra sobre o reino, duas crianças - os melhores amigos Bert e Daisy - embarcam em uma grande aventura para desvendar a verdade, descobrir onde está o verdadeiro monstro e trazer a esperança e a felicidade de volta para Cornucópia.

Cinco Estrelas

Os poucos defeitos que existem não me incomodam

💕

Reli os sete livros de Harry Potter no fim de 2022 e surpreendi-me com a qualidade da obra, não lembrava que a leitura era tão boa! Arrependo-me de já ter escrito que a versão brasileira era superior ao seu exemplar britânico, em relação ao livro de Renata Ventura. Mas isso é passado. Foi numa época que eu não dava valor ao que fazia sucesso só por ser famoso e ser de fora, questão que aprendi a lidar com o tempo. Agora reconheço que J. K. Rowling é merecidamente uma grande escritora digna dos mais variados elogios. E foi por isso que eu resolvi ler O Ickabog, seu primeiro livro infanto-juvenil publicado após o término da saga do bruxinho inglês.

Senti-me uma criança novamente ao ler O Ickabog. Confesso que, no começo, a narração é massante, uma mera descrição do mundo fantástico em que ocorre a aventura. Todavia, é só no capítulo 1; já no 2, o meu interesse já cresceu substancialmente. E a edição em capa dura que li tem um atrativo a mais: foi ilustrada por diversas crianças brasileiras! As ilustrações são fenomenais, uma mais bela que a outra! Obviamente, há desenhos que destoam do que é contado no livro, mas nada que incomode. Eu só não entendi por que foi desenhado uma torre para ilustrar uma masmorra; de resto, é tudo compreensível. Abaixo, reproduzo três das que mais gostei.

Joanne nunca menospreza a inteligência nem a sensibilidade infantil, pois, apesar de ser uma aventura para os pequenos, O Ickabog também atrai o interesse de adultos por tratar de temáticas maduras como morte, traição, mentiras e o poder dado a malfeitores e bajuladores. A escritora sabe muito bem como tratar assuntos sérios que merecem atenção na vida real, apesar de o romance estar situado em um mundo de fantasia com direito a final feliz e tudo mais. Um desses assuntos que eu destaco é o imposto do Ickabog, algo obrigatório que inclusive é tido como traição questionar a necessidade dele, assim não pagá-lo. Também é mencionado como os mais ignorantes comemoram tal absurdo e têm orgulho de pagar o imposto! Enquanto uns ignoram o mal causado por esse abuso de poder, outros sentem na pele o aperto que é desembolsar certa quantia quando não se tem muito; por outro lado, os mercadores ricos não precisam se preocupar, pois é só embutir em seus produtos o valor do imposto: ou seja, quem não faz parte da nobreza é que se prejudica, empurrando o povo para a pobreza.

Outra qualidade de O Ickabog são seus personagens, muito variados e com diversidade de pensamento, que é a diversidade mais importante que existe! Mas o me fez rir mesmo são os nomes: Cuspêncio, Palermo, Afítilio, Barata, Brilhante, entre outros. É hilária a tradução. Falando nisso, esta é perfeita, assim como a revisão do texto; não senti nenhuma passagem escrita de forma confusa nem percebi algum erro seja qual for.

O personagem que mais se destacou para mim foi o rei Fred, pois é um abestalhado fútil e mimado que não merece o poder que tem, tanto que logo é deixado em segundo plano, pois Cuspêncio é que começa a governar de fato o país, a Cornucópia. Porque não são só os personagens que tiveram a graça de receber belas nomenclaturas, países e cidades também foram abençoadas pela tradução. O que eu mais gostei foi a cidade Jeroboão.

Também amei as cantigas populares das páginas 134 e 140, entre outras. Entretanto, uma coisa que eu não gostei foi uma canção que narra como os humanos desnasceram (palavra do livro) da amargura e do ódio para matar os diferentes a eles. No final, não se dá uma certeza sobre isso, mas se prova que a maioria das pessoas não é assim.

Assim como no livro Cântico, a mentira nunca dura eternamente. Apesar de os governantes fomentarem-na, o povo sempre acaba descobrindo a verdade e exigindo-a. O problema é começar a mentir, pois depois não dá para parar, ou o mentiroso é descoberto. Há um trecho de O Ickabog que compara isso com um homem tentando tampar os buracos de um barco afundando. Para finalizar, cito uma passagem sobre Cuspêncio muito adequada ao vilão: “Ele passou a pensar no riso como um luxo […], e ver essa gente esfarrapada se divertindo o assustava mais do que se todos estivessem portando armas.”